Saturday 10 November 2012

Ambiguidade Sintática (Estrutural)

A ambiguidade é um fenômeno linguístico que desencadeia uma segunda possibilidade de interpretação de um enunciado. Esse fenômeno pode ocorrer a partir de algumas características que dividem a ambiguidade em quatro tipos diferentes. São elas: a ambiguidade semântica, fonológica, sintática e lexical. A ambiguidade sintática está relacionada à maneira como os elementos internos de um enunciado se combinam e geram a possibilidade de mais de uma estrutura sintática possível.
Esse tipo de ambiguidade é o mais criticada pelos professores, pois sua origem muitas vezes é inconsciente e não proposital, de acordo com a vontade do autor. Mostraremos mais a frente justamente essas duas visões que ocorrem na ambiguidade, o uso inconsciente e o proposital.

  • Ambiguidade Sintática Como Recurso Estilístico
A ambiguidade é muito mais do que apenas um erro que surgiu ao acaso. Ela também pode ser proposital, de acordo com a vontade do autor, se tornando uma ferramenta para atingir um efeito de sentido. Nesse caso, a ambiguidade se torna um recurso estilístico.
O recurso estilístico da ambiguidade é utilizado em vários gêneros textuais e literários, e se destaca bastante em gêneros humorísticos como a piada, sátira, trocadilhos, comédia, enigmas e a propaganda, onde a ambiguidade se torna um dos seus principais instrumentos para chamar atenção do interlocutor para a mensagem.

  • Ambiguidade Sintática Como Erro Gramatical
A ambiguidade também é um fenômeno linguístico que proporciona ao sujeito-leitor má interpretação de uma frase, texto ou oração e também, em outros casos, apenas causa humor (quando feita em piada).
Conforme a palavra que for usada, pela má organização de ideias numa frase, pela inadequação ao contexto gera-se duplicidade de sentido fazendo com que muitas vezes haja má interpretação do discurso.

Exemplo: "Eu amo mais você do que eu!"
Sabe-se que o pronome "eu" exerce a função sintática de sujeito. A primeira ocorrência dele na frase está, então, certa: "Quem é que ama?" Resposta: "eu"; o sujeito agente da ação de "amar".
A segunda ocorrência, porém, está inadequada aos padrões cultos da língua, pois, da maneira como está apresentada, tem-se novamente um sujeito, mas não é essa a intenção do autor da música. O que ele quis transmitir foi que ele ama determinada pessoa mais do ele ama a si mesmo. Usando a primeira pessoa do singular:

  1. Eu amo mais você do que eu me amo ou
  2. Eu amo mais você do que eu amo a mim mesmo.
 Resumindo: "Eu amo mais você do que me amo!" "Eu amo mais você do que a mim!"

Para concluir gostaria de deixar um lindo poema sobre a ambiguidade, escrito por Carlos Drummond de Andrade, entitulado “A verdade dividida”.

A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

  • Exemplos de Ambiguidade Sintática
Pedro pediu a José para sair.
- Neste caso, a ambiguidade não nasce de uma palavra de duplo sentido, mas, sim, da própria estrutura da frase. Que ideia a frase expressa: a) Pedro pediu permissão a José para sair um pouco ou b) Pedro pediu a José que fizesse o favor de sair um pouco?

O advogado disse ao réu que suas palavras convenceriam o juiz.
- As palavras de quem convenceriam o juiz: do réu ou do advogado?

Crianças que comem doce frequentemente têm cáries.
- A posição do adjunto adverbial complica tudo na frase: as crianças têm cáries porque comem
doce com frequência ou há mais probabilidade de ocorrerem cáries em crianças que comem doces?

Pedro encontrou a senha do cartão de crédito que ele tinha perdido.
O exemplo dado é uma ambiguidade sintática. Afinal, Pedro perdeu a senha ou o cartão? Podemos resolver a confusão com o uso de parênteses. Observe:
Pedro encontrou a senha (do cartão de crédito que tinha perdido).
Pedro encontrou (a senha do cartão de crédito) que ele tinha perdido.

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